A minha vida de dondoca...
- asduarte79
- 18 de nov. de 2014
- 4 min de leitura
Depois de um período sem posts, decidi voltar com algumas receitas (que até não me sairam mal e por isso decido partilhar) e com umas linhas sobre “a minha vida de dondoca”.
Infelizmente ainda não aprendi a engolir tantos sapos quanto queria. Sabem quando as pessoas atiram umas e outras para o ar ou quando se interrogam sobre a vida dos outros com uma pitada de veneno da ponta da língua... pois, nessas e noutras situações há como que um espírito maligno que me empurra e me faz responder. Não sei... se calhar já devia ter aprendido a ouvir e seguir em frente, mas acho que ainda não conquistei essa capacidade. E quando ouço certas coisas, começa a crescer em mim qualquer coisa, que me sobe pela garganta e... E às vezes surgem respostas, nem sempre polidas e aprazíveis.
Por isso mesmo e por uns e outros se interrogarem, e em momentos de maior coragem, me perguntarem como passo os meus dias “de tédio” e como me “entretenho”, resolvi abrir a caixa de Pandora. Podia apenas dizer que passo os dias no sofá a ler revistas e a ver séries, mas seria mentira e uma resposta demasiado rápida. E quem me conhece sabe que eu sou chata e gosto de contar todos os pormenores.
Olhando para trás, para estes quase 6 meses de vida noutro país, posso dizer apenas que não me arrependo de ter investido nesta mudança e que estou feliz. Isso bastaria aos comuns dos mortais e aos amigos... Mas, para os mais curiosos não e portanto aqui vai!
Infelizmente (ou não) sou daquelas pessoas que não gosta e não consegue estar parada. E depois de sete anos de plena actividade, esse cenário é quase que inimaginável. Desde que comecei a dar formação que o tempo ganhou outra velocidade e outra dimensão. Nada a mais nem a menos que outro trabalho, apenas a minha realidade e aquela que vivi e posso relatar. Foram “piscinas” entre um centro de formação e outro, foram muitos quilómetros de carro, com as aulas na escola pelo meio, quilos de trabalho em casa, fins de semana quase inexistentes, o mestrado e bem lá no fundo um tempinho para a família e amigos. Mesmo as férias eram utilizadas para “pôr trabalho em dia”. Enfim... fazia aquilo que gostava, trabalhava entre amigos e isso preenchia-me. Mas quem leva esta vidinha por alguns anos (e muitos, por mais anos que eu) sabe que é uma vida de extremo desgaste.
No entanto, quando se colocou a hipótese de deixar tudo e ir para outro país... não me pareceu possível. Nunca foi de todo o que pretendi fazer. Gosto do meu país e gostava do meu anterior emprego. Sempre me considerei com sorte por saber que era “aquele trabalho louco e esgotante” que me preenchia. Não sei se voltarei a ensinar, mas sei que é isso o que mais gosto de fazer. E por isso mesmo, perguntei-me se estaria a fazer o correcto ao deixar o ensino e ir para outro país sem expectativas de trabalho. Bem, várias coisas pesaram. A mais importante de todas era estar com aquele que escolhi e que me escolheu para partilhar a sua vida. Mas à parte do “amor e uma cabana” e só um a trabalhar, pesaram outros factors: desde há algum tempo, deixei de ter lugar na escola pública (ou mesmo privada) portuguesa. Há muito que o ensino se fechou para muitos professores e eu fui uma das “tristes contempladas”. Por outro lado, a situação de trabalhadora a recibos verdes e o facto de cada vez menos ter menos volume de formação, traduzia-se nos últimos meses a um “trabalhar para pagar as contas e os impostos”, o que a nível monetário significava um vencimento quase nulo. E a juntar a isto pesou também o clima de tensão existente nos centros de formação e o tal cansaço profissional dos últimos anos. Assim decidi arriscar naquilo que para muitos seria um passo simples. A parte que ficou e que mais pesava no lado oposto da balança, eram essencialmente os pais e os amigos que ficavam em Portugal.
Depois de aqui chegar, e como já referi umas linhas atrás, resolvi “mexer-me para não pensar”, uma velha estratégia, que até ao momento não sei dizer se será ou não a melhor. Procurei dar um toque pessoal à casa, fazer quilómetros a pé carregada com sacos e carrinhos de compras, procurar sítios para aprender a língua local e... o impensável: um local onde pudesse reaprender a andar de bicicleta! E assim foi. Continuei também com as aulas de inglês, língua que fui praticando também aos fins de semana e nos “eventos internacionais” entre uma grolsch e um vinho português.
Passados estes primeiros meses, gosto de olhar para trás e pensar no que ganhei. Ganhei qualidade de vida, ganhei paz e tempo para pensar; tempo para fazer coisas que gosto, como cozinhar, ler e desenhar, nadar ou arranjar o jardim. Ganhei tempo para melhorar o inglês (coisa que há muito devia ter feito) e até para aprender uma nova língua. E consegui até o impensável – colocar-me em cima de uma bicicleta e... andar!!!! Falo agora mais com alguns dos meus amigos, do que falava quando estava a poucos quilómetros de distância dos mesmos. Tenho mais “vida social” agora do que tive nos últimos anos da minha vida! Posso fazer cursos sobre os quais tenho interesse, sem me culpar por “estar a perder tempo de trabalho”. Chamem-lhe vida de dondoca. Eu chamo-lhe paz de espírito.
Não vou dizer que desde que cheguei tudo foi um mar de rosas. Um ou dois momentos foram realmente muito complicados e em outras alturas as saudades foram muitas e nem sempre o facto de estar longe, o tempo escuro e os dias curtos ajudaram. Mas nesses momentos, penso que estamos a umas escassas horas de distância, que o skype existe e que logo logo é Natal.
A pressão social às vezes é muita. A pressão dos nossos pensamentos essa então consegue ser destrutiva. Como esta é a forma que encontro para os acalmar, resolvi escrever. Não sei o que o amanhã me reserva. Se gostava de voltar a trabalhar? Sim. Se gostava de voltar a ensinar? Claro que sim!!! Se me vou torturar pelo facto de estar em casa neste momento e não o estar a fazer? Não... tenho muito com que me “entreter” :)

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