Ride a bike
- asduarte79
- 17 de jul. de 2014
- 3 min de leitura
Decidi guardar para mim, tal era o medo de que fosse mentira. Às vezes sentimo-nos assim, temos medo que no momento que falarmos, que colocarmos os pés no chão, as coisas se evaporem, como se de sonhos se tratassem.
Depois de 30 anos: let’s ride a bike...
Se há uns meses me dissessem que ía escrever estas palavras, iria jurar que era mentira. Acho que entre as coisas que mais assustaram quando decidi vir para a Holanda, foi o facto da Holanda ser o país das bicicletas. Em Portugal ainda existe quem não tenha um carro, mas aqui poucos são aqueles que não andam de bicicleta. Todos andam: novos ou velhos, com crianças atrás e à frente, com cestinhas de compras, com cestinhas com cães... Mas eu: eu não ando de bicicleta! Eu não ando de bicicleta há 30 anos!!! Eu não ando porque fui parva o suficiente para deixar de andar depois de ter caído e partido um dente quando era miuda. Logo, assim que comecei a dizer para onde vinha, começaram os “comentários óbvios”: ”agora é que vais andar de bicicleta”, “lá toda a gente anda de bicicleta”... Claro, todos. Todos menos eu! Eu, quase a fazer 35 anos e com medo de pôr os pés nos pedais! Depois de chegar, a pressão aumentou: “nós vamos de bicicleta”, “de bicicleta seria mais rápido”, “todos andam de bicicleta”...
Sinceramente sempre me irritou o facto das pessoas dizerem “tens que...”, “tens que fazer qualquer coisa”, neste caso “tens que andar de bicicleta”... Tenho?! Pois é mesmo agora que não o vou fazer. Se se tratasse de outra coisa, seria isso que aconteceria, mas não, não desta vez! Desta vez é algo pessoal, é aquele calcanhar de Aquiles, é a tal coisa que não acreditas que vais conseguir, mas que sabes que se conseguires te vai dar um gozo enorme, te vai chutar a auto estima para cima, daquelas coisas que pensas: “se conseguir fazer isto, consigo tudo!”.
E assim foi, encontrei por acaso uma associação perto da minha casa que tinha entre a sua lista de actividades “cycling lessons”. O primeiro pensamento foi: “A sério??? Então, mas as pessoas não sabem TODAS andar de bicicleta? Não é aquilo que nunca se esquece? Não é a coisa mais fácil do mundo?” Bem, pelos vistos não! Fui investigar! Trata-se de uma associação que trabalha como uma espécie de comunidade, para e com as pessoas do bairro. Todos são voluntários e dão o que podem. As aulas de bicicleta são dadas por duas senhoras afegãs, as bicicletas são de lá e as aulas são duas vezes por semana. Gostei do conceito. Comprometi-me a frequentar as aulas de cycling e de dutch e, em troca, ofereci-me para ajudar no que fosse necessário – aulas de informática, de português, ...

E lá comecei... na primeira aula senti-me uma miuda, envergonhada pelo facto de não saber fazer o que supostamente todos sabem. Na segunda aula consegui pedalar e na terceira consegui sentir o vento a roçar-me a pele e relembrei a sensação incrivel de andar de bicicleta.
São pormenores, na maior parte das vezes são sempre pequenos pormenores que me fazem sorrir. Mas juro que aquela pequena vitória me fez por momentos sentir tão bem...
O passo seguinte foi comprar uma bicicleta. O produto é muito procurado, e caro nas lojas. Felizmente existem muitos estudantes que vendem as suas bicicletas ao preço da chuva. Encontrei uma por um preço acessivel e não pensei duas vezes. Ainda é alta demais para a minha recente experiência, mas com o tempo vai lá.
Entretanto, uma amiga emprestou-me a dela: velha e pequena! O ideal para amadores como eu! Let’s start!
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